Quem vê nos jornais as notícias sobre os ataques de muçulmanos contra cristãos não devem imaginar que isso surgiu de tramites políticos para defender o petróleo explorado por países ocidentais no Oriente Médio.
O arcebispo de Carachi, Joseph Coutts, nascido no Paquistão há quase 70 anos resolveu contar a história em uma entrevista ao site português Público onde ele revela como os conflitos religiosos começaram.
Quando nasceu, o Paquistão não era um estado e mesmo quando surgiu seu fundador, Muhammad Ali Jinnah, não resolveu criar um estado islâmico teocrático. Porém, os grupos radicais começaram a impor os governos para que a separação entre religião e Estado deixasse de existir oferecendo apoio político.
Foi assim que o Paquistão se tornou um país islâmico, ganhando força durante a ditadura militar que aconteceu entre 1977 e 1988, período em que a lei da blasfêmia foi implantada.
A referida lei é usada para punir quem não professa o islã, atingindo diretamente as minorias religiosas. Mas os conflitos começaram mesmo após problemas políticos em países como o Afeganistão.
"A União Soviética invadiu o Afeganistão, em 1979, e isso causou muito medo no mundo ocidental. Se o Afeganistão caísse, a seguir podia ser o Paquistão e os soviéticos ficariam muito próximos do mundo árabe e da fonte de petróleo dos ocidentais. O mundo ocidental, com os Estados Unidos à cabeça, decidiu que era preciso travá-los e para o fazer começou a usar a ideia de jihad, a promovê-la ativamente", denuncia o arcebispo.
Segundo Coutts, os Estados Unidos começou a treinar os jovens muçulmanos para que eles se defendessem dos comunistas da União Soviética e assim defenderiam suas crenças. "Lutar pela religião era uma ideia que não exista na região, mas foi muito promovida nessa altura", relata.
De lá pra cá o assunto passou a ser fomentado na região, muçulmanos radicais resolveram pegar em armas para lutar contra quem não segue a mesma crenças, agindo principalmente contra os cristãos.
"Os imãs muçulmanos começaram a pregar que as cruzadas ainda não tinham acabado, que as cruzadas estavam a tomar uma forma diferente, que os cristãos continuavam a querer oprimir os muçulmanos", diz o arcebispo citando que após a invação dos Estados Unidos contra o Afeganistão esse sentimento contra ocidentais cristãos se tornou ainda mais forte gerando verdadeiro temor.
Hoje a situação dos cristãos no Paquistão e em outros países do Oriente Médio é muito perigosa. Igrejas são queimadas, cristãos são torturados, presos e mortos por questões puramente religiosas.
Tanto é que as famílias cristãs, que representam 2% da população do Paquistão, estão se protegendo através de medidas de segurança como o aumento dos muros e a proteção policial em escolas e igrejas.
"O Governo colocou guardas armados nas nossas escolas, nas igrejas, a polícia quer ser avisada sempre que há uma missa especial, com mais gente. Com os homens-bombas há pouco a fazer, nunca sabemos de onde vem o perigo. É nessa tensão que vivemos. Sabemos que vai haver um novo ataque, temos a certeza disso. Só não sabemos quando e onde?", diz o religioso já conformado com a situação.
Coutts explica que os cristãos não sofrem sozinhos, todas as minorias religiosas são perseguidas na região, incluindo os muçulmanos xiitas.
"É muito complicado. A perseguição aos cristãos é apenas uma parte do problema. Nem todos os muçulmanos nos querem perseguir, se fosse esse o caso seríamos destruídos, somos só 2% da população", revela.
O arcebispo afirma que hoje o problema são os grupos radicais que não aceitam a democracia e interpretam a lei islâmica de forma errada. Tanto é que recentemente um grupo de xiitas ismaelitas, um grupo bastante pacífico, sofreu um grande ataque dos sunitas que são a maioria da população do país.
Os grupos que não aceitam a violência tentam se ajudar e mostram solidariedade diante dos ataques, até mesmo governantes e parlamentares tentam de alguma forma tentar derrubar a lei da blasfêmia no país, mas as tentativas são frustradas. Com informações Publico
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